sexta-feira, 12 de junho de 2015

A Casa Assombrada – John Boyne


"Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com frequência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar." 

Uma sensação de "quero mais" tomou conta de mim ao terminar o livro assombrado de John Boyne. "Mas porquê? Porquê?". 

Talvez a graça do livro seja mesmo esses questionamentos intermináveis, e admito que até uma noite mal dormida. Como eu costumo dizer, a magia dos livros está exatamente em cada um imaginar o melhor final para aqueles personagens, e eis que me pego refletindo sobre a verdadeira mensagem desta obra para escrever a resenha a seguir. De qualquer forma, eu vou tentar...e assim como nossa protagonista, achar uma resposta para essa enigmática história.  

 Eliza Caine tem 21 anos, e acaba de perder o pai. Totalmente sozinha na cidade de Londres, e sem dinheiro suficiente para pagar o aluguel da casa, ela se depara com um anúncio de emprego de um tal H. Bennet. Ele busca uma governanta para se dedicar aos cuidados e a edução das crianças de Gaudlin Hall, uma propriedade no condado de Norfolk. Como Eliza trabalha como professora em uma escola para meninas, porque não arriscar não é mesmo? 

Há quem diga que o luto é o pior sentimento que um ser humano pode sentir, seja ele de qualquer espécie, a sensação de perder alguém que se ama é tão devastadora, que sim meus caros leitores, a vontade de fugir é sempre a primeira opção cada vez que a dor invade nossos corpos. E com Eliza não foi diferente, e foi assim que ela fugiu da cidade grande para o interior, a fim de tentar tapar sua dor com a fuga, o medo e a dúvida se conseguiria viver sem o seu amado e admirado pai. 

O que Eliza não sabe, é que Gaudlin Hall e H. Bennet não são bem o que ela estava imaginando. Chegando a mansão onde seria sua casa dali para frente, Eliza se surpreende ao encontrar apenas Isabella, uma menina que parece inteligente demais para a sua idade, e Eustace, seu adorável irmão de 8 anos. Os pais da criança não estão lá e não se vê nenhum criado presente. Eliza logo constata que não há nenhum outro adulto na propriedade, e a identidade de H. Bennet permanece um mistério. 

A nova governanta e nossa protagonista desta história, busca incessantemente informações com as pessoas do vilarejo, mas todos coincidentemente a evitam. Nesse ínterim, Eliza fica intrigada do porque as janelas da mansão se fecham sem explicação, cortinas se movem sozinhas e ventos desproporcionais sopram pela propriedade.  Eventos assustadores começam a acontecer, piorando dia após dia, deixando nós leitores roendo as unhas de tanta ansiedade para entender o que de verdade acontece naquela cidade, e principalmente naquela casa, que leva o título desta obra: "assombrada". 

Porém preste atenção: "A Casa Assombrada" não é uma simples história de fantasmas. John Boyne aborda de maneira divina, eu diria, assuntos como perda e solidão, através de uma narrativa completa e extremamente reflexiva. John Boyne tece uma atmosfera mórbida e misteriosa acerca dos ocorridos, e consegue deixar o leitor aflito, e ao mesmo tempo emocionado, através de um texto poético e convincente. 

Como uma boa história de terror, não vou entregar qual o grande mistério que ronda a mansão de Gaudlin Hall, desta forma eu não seria justa com o leitor que vai embarcar nesta história, mas já que prometi que iria tentar escrever sobre o verdadeiro significado deste livro, vou falar sobre os sentimentos que nos são postos a prova quando acompanhamos os infortúnios de Eliza Caine.

Morte. A palavra por si só, carrega um imenso peso. Infelizmente, é a única certeza que temos na vida. Mas mesmo as certezas não deixam ninguém preparado para lidar com elas. Um amigo não vale pelo outro, um irmão não vale pelo outro, e nada no mundo pode substituir a figura de uma mãe e de um pai. Nunca somos velhos o suficiente para ficarmos órfãos, essa é a bem da verdade. Por mais que o tempo passe, sempre carregaremos o sentimento indecifrável de vazio. O vazio nos leva ao medo, e o medo nos leva ao medo de sentir aquele vazio. É cíclico. Foi por esse vazio que Eliza fugiu, e tentou substituir seu amor e sua dor pelos cuidados de duas crianças que carregam uma dor de perda muito semelhante a dela própria. Com fantasmas ou sem fantasmas, Eliza encontra a resiliência, e aprende de forma bonita a olhar o seu vazio de frente, e não se deixar trair pelo medo de não senti-lo. Já ouvi uma vez que "a dor precisa ser sentida", e quanto mais se tapa o sal com a peneira, maior fica o buraco embaixo dela. Tirando de jogo as frases clichês, a mensagem desta obra é algo muito simples, porém de difícil prática: Vive muito melhor a dor da perda quem sabe que fez a sua parte da melhor maneira que pode. Ainda vai doer, muito, mas talvez de uma maneira diferente, se assim for permitido por quem sente o temido vazio. 

Quando Eliza finalmente para de temer o sentimento de vazio, ela não apenas supera a história fantasmagórica, mas aprende que nada pode ser substituível, mas que se consegue recomeçar uma nova história sem dúvidas traidoras, e principalmente, com a sensação de superação de um medo que só se torna pequeno ou grande se o proprietário do sentimento permite sê-lo. 

Para finalizar, deixo aqui uma reflexão, e acho que com ela, finalmente consigo concluir sobre a verdadeira mensagem desta obra:

Superar é principalmente querer, ter vontade de seguir continuamente vencendo os desafios impostos pela vida. É o poder de saber reconhecer o quanto se é forte, ou não. Recomeçar todos os dias e sempre que necessário. Procure enxergar além da montanha, e use o passaporte da vida a favor para ser uma pessoa verdadeiramente feliz. Jamais perca a coragem, o ânimo e tampouco a capacidade de amar. A vida é e sempre será sobre superação.

Como Eliza Caine, espero que tantos outros enxerguem no vazio a possibilidade de recomeçar. 

Até porque, se existe mesmo vida após a morte, porque temer a fantasmas? Não seriam talvez os piores fantasmas, aqueles que achamos existir dentro de nós?

A refletir...Eu disse que seria difícil.

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