segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Civilização do Espetáculo – Mario Vargas Llosa


Minha primeira postagem nesse blog foi sobre um livro ganhador do Nobel, 'Neve', que fiz questão de deixar claro que era um livro excelente que merecia ser lido. Pois bem, nunca fui alguém que definia a lista de leitura de acordo com a lista de ganhadores do Nobel (embora buscasse muito saber o 'porquê' de ler um livro antes de lê-lo, buscar opinião de pessoas que eu considero inteligentes e etc, além de ter um pouquinho de dor de cotovelo por morar em um país de 200 milhões de habitantes e 500 anos de história sem um Nobel 100% tupiniquim), mas depois de ler 'Neve' e esse livro aí do título, quando estiver em busca de uma boa leitura, já sei onde procurar.
Em tempos de questionamento da legitimidade do Nobel, que deu o prêmio da Paz ao Obama (pelo simples fato dele ser o Obama), para a UE em um ano de vários protestos e profunda repressão policial e para uma entidade antiproliferação nuclear razoavelmente desconhecida em um ano que os únicos candidatos 'consideráveis' eram a menina Malala e talvez o controverso Edward Snowden, se o Nobel de Literatura propõe entregar o prêmio a uma obra literária de qualidade magistral, relevância social e capacidade de 'promover desenvolvimento à sociadade ou o indivíduo', 'Civilização do Espetáculo' parece ser feito sob encomenda para preencher todos esses critérios. E que encomenda.
Se você recebeu ou recebe sua educação superior na área de humanas, já deve ter pelo menos ouvido falar da Escola de Frankfurt e de um texto intitulado 'A Sociedade do Espetáculo', ambos colocando muito ênfase na forma que a cultura é consumida e o último realizando previsões quase que proféticas sobre os efeitos negativos da mercantilização da cultura. Vargas Llosa, além de citar as duas obras, corrige alguns equívocos e realiza uma análise cirúrgica sobre o estado atual que de fato ocorreu: uma pseudocultura de mercado altamente imbecilizante, sem qualquer valor de qualquer tipo, com o objetivo único de 'chamar a atenção', cuja 'qualidade' é determinada única e exclusivamente pela probabilidade de retorno financeiro e como isso afeta a interação do indivíduo com a sociedade, o cenário político ocidental, a mercantilização de absolutamente tudo,inclusive das religiões(efeito facilmente perceptível no Brasil)e, claro, a decadência da cultura.
De forma brilhante, o autor relaciona coisas 'irrelacionáveis',como movimento Modernista e a televisão de massas, a cultura de celebridades e a forma de fazer política, a liberdade de informação e a indústria papparazzi, e toca em assuntos 'inconvenientes' de forma corajosa, como a irresponsabilidade do intelectual moderno, da destruição do valor criativo da arte pelo próprio artista, da exaltação da rebeldia pura e simples como um fator que lentamente tira a legitimidade e poder de transformação de movimentos sociais e da falta de orientação à leitura em nome da liberdade que acaba entregando a juventude vendada e amarrada para a indústria cultural imbecilizadora.
'Civilização do Espetáculo' é uma análise do panorama cultural do Ocidente hoje, com um texto curto (o livro tem apenas 207 páginas), mas extremamente denso, cuja tese é apresentada no começo e sua defesa vai-se lentamente desenhando de forma perfeita. Indepentende de suas crenças e gostos, esse é um livro feito para o indivíduo curioso, em busca de conhecimento de qualidade, que esteja confuso (conscientemente ou não) nesse oceano de informação de hoje.
Atenda ao único pedido que vou te fazer na vida e faça um enorme favor a si mesmo: leia esse livro, permita-se o pensamento.

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