Esse é o primeiro livro escrito
por Nabokov em inglês, e é o primeiro livro que eu compro da Alfaguara – alguém
tem que me explicar como se pronuncia isso! – e gostaria de começar a resenha
falando do “exterior” do livro e de como e porque eu o comprei.
Foi uma compra de impulso, eu
entrei em um site de compras e por acaso tinha uma promoção de livros, como
sempre, olhei o catalogo inteiro, e chegando ao fim dos cento e poucos livros,
comecei a ver alguns títulos da Alfaguara, muitos de autores que eu não
conhecia, e esse, que era de um autor que eu conhecia – eu já li, pelo menos,
Lolita do Nabokov – e que tinha uma capa incrível – podem me julgar, eu compro
livros por causa capa também –, “tiro e queda”, comprei o bendito depois de ler
a sua sinopse, e esse trecho de uma entrevista feita com Nabokov, pela Vogue
americana em 1969, que me inspirou a conhecer melhor esse escritor:
"Se eu acho que um escritor
deve dar entrevistas? Por que não? É claro que no sentido restrito, um poeta,
um romancista, não é exatamente uma celebridade (...) Não posso simpatizar por
alguém que tenha mais interesse em me conhecer do que aos meus livros. Como um
espécime humano, não apresento nenhuma característica fascinante. Meus hábitos
são simples, meus gostos são banais.(...)Eu realmente não acredito que falar de
mim ajuda a vender meus livros. O que realmente me agrada em falar para o
público é a oportunidade que isso me dá de construir a imagem do que eu espero
ser uma personalidade plausível e não completamente desagradável."
Pois bem, esse grande e polêmico escritor,
um senhor muito normal, que conseguia tecer tramas incríveis, tinha um ponto de
vista muito particular sobre si mesmo. Foi assim que um trecho de entrevista, a
curiosidade sobre uma nova editora, e um “capinha bonita” me levaram a comprar
e ler, um dos melhores livros que já
passaram pelas minhas mãos.
A Verdadeira Vida de Sebastian
Knight é, na realidade, uma biografia de um personagem fictício: um escritor
brilhante, que morreu, e tem a sua vida e memória “compurscadas” por um
falastrão, e que possui um irmão que esta disposto a redimir os inconvenientes
gerados pelo tal falastrão. Ou pelo menos deveria ser assim, existem
controvérsias, alguns dizem que é uma paródia – e talvez seja, e eu não tive
sensibilidade para perceber isso.
O fato é que esse livro soou parecido com
outro, me lembrou muito o “Piloto de Guerra” do Antoine Saint-Exupéry, sabe?
Aquele jeito saudoso de lembrar de algo que não existe mais, mas que mesmo assim
parece tão vivo e próximo, acho que se Nabokov e Exupéry se encontrassem para
falar de uma passado em comum – que deveria ser in-comum (“in” de não), eu não achei registros que dizem que os dois
chegaram a se conhecer – toda a conversa deveria ser registrada, e transformada
em livro, eu compraria, seria como ler sobre o movimento das folhas das arvores
com o vento de um dia de agosto: quente, ensolarado, e perturbador – parei com
isso, parei de sonhar e de divagar...
Durante o livro o irmão passa a
conhecer melhor Sebastian – em momento algum aparece o nome do irmão do escritor
– e também a si mesmo, e acho que existe todo um dialogo saudável entre nós, os
leitores, e o irmão de Sebastian: ele nos explica, nos confidencia, e nos
questiona sobre tudo, e também sobre nós mesmos, é realmente incrível como me
senti próxima e confortável com todo o livro.
Em fim, às vezes distante, às vezes próximo, quem é Sebastian Knight? Um homem, um ideal, o próprio irmão, ou nós,
os leitores? A verdade é que Nabokov
mais uma vez me proporcionou uma leitura agradável, com uma estória verdadeiramente
interessante, e com personagens que parecem tão reais, tão palpáveis e plausíveis
que chega ser frustrante nenhum deles nunca ter existido.
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