Anna Karenina é um livro que gira em torno principalmente da
vida de uma mulher, Anna, e de um homem, Levin; eu sei que todos esperavam que
eu falasse do Conde Vronski, mas a realidade é que a parte em que eu quero dar
ênfase aqui manda o Conde para o segundo plano.
Anna era uma aristocrata casada com um importante membro da
sociedade russa, que apesar de ter tudo àquilo que é considerado desejável a
uma mulher no e do século XIX – beleza, riqueza, um bom casamento, um filho –
acaba tento um caso com o “impetuoso” – e colecionador de corações partidos –
Vronski, a partir desse momento ela se envolve em uma série de coincidências e
ações trágicas que a levam ao famoso destino de Anna – que eu não acho correto
falar aqui. Levin é um rapaz que tem uma propriedade agrícola e que é
apaixonado por uma sofisticada mocinha de São Petersburgo – a última a ter o
coração partido por Vronski, inclusive, por ele a ter iludido a um possível
noivado e depois ter se “apaixonado” por Anna – que por causa dessa paixão e de
outros motivos passa por um conflito interno sobre a felicidade do homem
durante todo o livro – mesmo depois de ter desposado seu amor, Kitty.
Tolstói é um dos mais importantes escritores russos – talvez
do mundo – e ficou conhecido principalmente pelos livros Guerra e Paz – livro
que fala sobre as campanhas de Napoleão na Rússia – e Anna Karenina – que é
visto pelo mundo como um importante retrato feminino. Ao mesmo tempo, o romance
Anna Karenina é considerado um pouco “autobiográfico” ao narrar a história de
Levin que se afasta da perturbação das grandes cidades e se recolhe ao campo
para uma vida “simples” junto a mulher – uma tendência e filosofia adotada por
Tolstoi já próximo da velhice, essa de se afastar dos grandes centros e do que ele considerava um universo decadente e hipócrita. Visto
assim é possível identificar a possibilidade de que Anna poderia tentar
personificar aquela sociedade da qual Tolstói tentava se afastar, isso nos
ajuda a tentar entender Anna, que seria uma síntese de tudo aquilo que a
maioria das mulheres de hoje tenta não ser. Apesar da importância desse livro e
desse escritor, o fato é que apresentar o perfil de uma pessoa que se autoflagela para infringir dor a um homem que ela nem ama nem odeia – eu acho que ela se
torna totalmente indiferente a Vronski no fim do livro – e que faz isso, acho
que como uma maneira de se elevar a alguma coisa ou de ferir alguém, como sendo
um grande exemplo de perfil de mulher – não como um simples e isolado perfil de
mulher, mas como um dos principais e mais importantes – é no mínimo
preocupante.
Eu – a pessoa por traz desse texto e blog – não consigo ter
como exemplo da psique feminina essa mulher, não que eu a odeie nem ache ela um
monstro, mas ela não pode ser um exemplo dos pensamentos e sentimentos de nenhuma
mulher, existe uma série de personagens femininas que amam e que morrem por
seus amores e que fizeram isso de maneira mais correta, de maneira nobre, de
uma maneira que todas as mulheres deveriam lutar, ou por seus amores, pelos
seus filhos, ou pelos seus direitos e convicções; Anna é uma mulher que tem
coração mas não tem mente, ela age segundo uma série de valores que são
intangíveis com a realidade para qualquer pessoa que resolva pensar na vida
durante 15 minutos no ônibus, me desculpem a expressão, talvez, ou muito
provavelmente, vocês não entendam do que eu estou falando mas se você que
estiver lendo esse texto imenso e tenha um mínimo de amor e respeito a vida e a
mulher como instituição ou como individuo deve saber que é cruel de mais tentar
incutir tudo que Anna é – e não o que ela representa – na mente de uma pessoa
que trabalha para construir uma vida segundo uma moral.
Agora que tudo isso foi explicado eu posso começar a expor a
minha opinião sobre o livro. Eu me lembro de ter achado que nesse volume
faltava uma coisa que na época eu não conseguia identificar, mas que agora eu
sei que não era uma ausência e sim um excesso, vou tentar explicar a partir de
uma experiência que eu tive: uma noite muito fria eu me lembro de ter passado o
lençol por cima da minha cabeça e de tê-lo prendido por baixo do travesseiro,
ficando dessa maneira totalmente coberta e presa, nessa noite eu tive um
pesadelo em que eu me afogava, eu me lembro de que a sensação de pânico foi tão
forte que eu acordei socando o lençol, eu me assustei muito dessa vez; o que eu
senti ao ler Anna Karenina foi semelhante a isso, Anna que representava uma
pessoa totalmente fora da minha realidade e ideais me foi apresentada com um
realismo tão grande que eu realmente me assustei com aquilo que seria uma
realização quase material de um pesadelo: a possibilidade de uma pessoa viver
daquele jeito. A não ser o fato de que Anna é a personificação de um dos meus
piores pesadelos, o que realmente me torturou durante a leitura, o livro
apresenta uma série de qualidades que o afirmam como um grande romance: a
descrição da sociedade, a construção de personagens totalmente humanos e
simpáticos como o irmão da Anna, Oblonsky – que apesar de uma série de desvios
ainda representa alguém palpável –, a busca pelo amor e pela realização
interior de Levin – que tenta viver segundo o seu próprio código moral –, a
divertida ou trágica picuinha de Dolly –
esposa de Oblonsky –, o movimento de mudança e avanço e de busca de felicidade
pelos personagens – até mesmo da parte de Anna que vai atrás daquilo que para
ela representa a felicidade – e também do fato do realismo impecável de Tolstói
ao descrever seus personagens, a vida deles, as ações e motivações deles. Eu
posso dizer, como eu já disse, que Anna Karenina não é o melhor livro que eu
li, mas o fato de eu o ter lido e não ter gostado completamente dele não apaga
as qualidades incontestáveis desse romance, essa explicação enorme do que eu
interpretei do livro só tenta explicitar a minha opinião, e não altera a opinião
de outras pessoas, nem a realidade do livro – que já foi escrito, a minha
opinião não vai magicamente mudar o que ele é – o objetivo do blog é servir
como “diário” de leitura, indicando quais foram as nossas – minha e dos outros membros –
dificuldades, métodos, leituras anteriores – como eu já indiquei livros para
serem lidos antes de outros – o nosso objetivo é ajudar a todos a descobrir o
maior número de gêneros literários e livros a partir das nossas experiências, e
tornar mais simples e gostoso esse descobrimento.
Desculpem-me se eu dei a entender alguma coisa diferente,
essa resenha é a retificação de uma anterior que deve ter ofendido a um leitor,
me desculpem, a outra resenha foi feita na época em que eu comecei o blog,
talvez naquela época eu não tenha sabido me explicar, e espero que esse texto
possa explicitar os meus sentimentos e opinião em relação a esse livro, se
vocês tiverem alguma duvida ou tiverem alguma critica entrem contato, eu terei
o maior prazer em responder a elas. Eu sou humana, é comum errar, talvez minha
interpretação agora esteja tão errada quanto à resenha anterior, mas eu quero
deixar claro que assim como eu estou retificando essa resenha para tentar sanar
qualquer mal entendido, estou disposta a corrigir quaisquer outros erros e
explicar qualquer uma das minhas opiniões.
Obrigado a todos.
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